O evangelista

Descrição

“Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa de um chefe de cartório que, em seu trabalho, realiza todas as funções, inclusive as do juiz, e que, sendo corrupto, opera administrativamente com uma equipe de advogados venais: de forma que ele solicita, julga, contesta, faz o diabo!

Naturalmente, há o paralelo bíblico com o nome dos personagens (satisfazendo já uma necessidade de estilo de Manoel Herzog, desde “Os bichos”, no tocante à alegoria). Aqui, no caso, temos Evangelista, o protagonista (paródia de São João Evangelista), seu irmão Salvador, também advogado, temos também João Batista, o promotor Caifás, o juiz Pôncio – que curiosamente lava as mãos e se recusa a distribuir justiça. And last, but not least, sua amante, Madalena.

Numa leitura mais epidérmica, “O Evangelista” retrata a corrupção no centro do poder judiciário em detalhes absolutamente hilariantes, se não fossem monstruosos, índices de uma sociedade capenga desde a base de suas instituições.

Por outro lado, “O Evangelista” também é, numa leitura reversa, uma exaustiva e minuciosa reflexão sobre este crime chamado justiça. Mas acima de tudo, é uma obra rigorosamente de linguagem, e linguagem de raiz poética, tal como define Julio Cortázar, um duplo prazer para o leitor, seja pela fabulação, seja por esta grande aventura da linguagem que é a poética consumada de Manoel Herzog.”

Márcia Denser