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Video-cartas: da aldeia para a cidade e da cidade para a aldeia

A cineasta Mbyá-Guarani Patrícia Ferreira e a artista visual goiana Sophia Pinheiro se corresponderam por vídeo-cartas ao longo de dois anos. Este contato, inicialmente remoto, estimulou a pesquisa artística resultante da videoinstalação A imagem como arma, que será exibida, em Goiânia, no dia 15 de dezembro, no Centro Cultural UFG. Realizado com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás (FAC), o trabalho ainda circula por Pirenópolis (16/12) e pela Cidade de Goiás (17/12), antes de ser doado ao Museu Antropológico da UFG.

Em princípio, o projeto procurava compreender, por meio de imagens trocadas entre elas, o processo criativo artístico de cada uma: a cultura impactando o olhar poético e afetos da mulher indígena e da mulher branca sobre o outro, o cotidiano, sobre tempo e espaço. No entanto, ao longo dos trabalhos, foi se evidenciando a maneira como as imagens provocavam ou possibilitavam estas relações, especialmente, a relação pessoal entre elas.

A criação da obra A imagem como arma se iniciou com pesquisa de campo, em 2016, quando a artista visual cursava mestrado em Antropologia pela UFG. Sophia esteve duas vezes na Aldeia Ko’enju, em São Miguel das Missões (RS) e Patrícia esteve uma vez no Estado de Goiás. Para Sophia, uma oportunidade de experimentar, pela primeira vez, um movimento que Patrícia faz constantemente: transitar entre territórios que se distinguem pela cultura.

Parte do material audiovisual que compõe a videoinstalação advém das vídeo-cartas, no entanto, segundo as autoras, o conteúdo ganhou densidade quando estiveram juntas na aldeia. Para elas, o melhor resultado surge quando Patrícia filma Sophia e Sophia filma Patrícia, revelando não somente peculiaridades estéticas do olhar de uma sobre a outra, como pontos de vista convergentes e divergentes.

“Eu acho que trazemos à tona ‘questões das mulheres’ pouquíssimo discutidas na antropologia, nas artes visuais e no cinema: a casa, a maternidade, a mulher como esposa, mas com viés subjetivo e feminista, confrontando a desvalorização universal do domínio doméstico e do feminino”, lembra Sophia. Naturalmente, discussões sobre o corpo também se apresentaram na convivência, possibilitando aprofundamento na reflexão sobre diferenças e similaridades entre os juruá kuery (brancos) e os Guarani.

Arma política

Na base, a pesquisa do projeto se ancorou no estudo acerca de mulheres indígenas que, por meio da linguagem audiovisual, produzem sua auto-representação, se expressando socialmente, politicamente e artisticamente. Ou seja, manifestações protagonistas que se contrapõem à visão passiva, romantizada e exótica do índio e da índia, historicamente retratada pelo homem branco.

 A estética do filme é caseira, um experimento visual feito por duas mulheres de diferentes mundos que, partilhando essas diferenças, criaram um território. De acordo com Sophia Pinheiro, a intenção é de que a obra A imagem como arma possa ser exibida em aldeias indígenas e também fora do Estado de Goiás. “A importância do projeto não é só regional, mas para todo o território brasileiro e para os demais locais do mundo, visto que a questão indígena e da mulher são assuntos universais”, defende.

Serviço

A imagem como arma: abertura de exposição e bate-papo

15 de dezembro (sexta), 18h às 21h, Centro Cultural da UFG

Goiânia (GO)

Exibições: 16 a 22 de dezembro – segunda a sexta: 10h e 16h

Centro Cultural da UFG

Goiânia (GO)

 

16 de dezembro (sábado), 20h, Cine Pireneus

Pirenópolis (GO)

 

17 de dezembro (domingo), 19h, Cine Teatro São Joaquim

Cidade de Goiás (GO)

 

 

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